de vestido.
Qual o juízo de valor da frase “Nossa, você joga que nem um homem.”?
Desde pequena,
inconscientemente, eu tento me equiparar aos homens, porque, vamos lá,
ser homem é muito mais legal. Quando eu era criança eu tentava
copiar meu pai em quase tudo.O jeito que ele sentava, me
interessava pelos filmes que ele gostava, tentava comer de todas as
variedades de comida que ele comia e queria tirar a camisa quando
fazia calor. Sim, eu via meu pai ficar sem camisa, meu avô, meu
irmão, porque não eu? Depois que tentei fazer isso só faltaram me
bater, “Não filha, menina não pode ficar sem camisa.”. Na minha
cabeça eu só pensava, “mas eu sou igual a um menino.” Sempre
que eu ia na casa do meu priminho eu me jogava nos brinquedos dele
que tinham atitude, pois era muito mais aceitável um menino, durante
a sua infância, ter bicicleta, carrinho de rolimã, skate,
escorregador e balanço do que uma menina. Menina tem cozinha pra
brincar de casinha. Quando eu queria sair pra brincar na rua com o
meu irmão mais velho, eu, minha irmã e minhas primas não
podíamos porque meu avô dizia “Menina não brinca na rua, brinca
dentro de casa.”
O que passou se foi,
mas aquelas ordens e dizeres começaram a construir conceitos dentro
da minha cabeça do quão chato ser menina poderia ser. Desde então
tudo o que era relacionado com ser feminina me irritava ou às vezes
eu até gostava, mas tinha vergonha de passar batom, de pentear o
cabelo, de usar vestido e de ser carinhosa. E então, na minha
adolescência eu não me encaixava nas doces meninas da minha sala,
mas me enturmei muito fácil com as que gostavam de esportes e que
falavam de besteira, não da Britney Spears. Mas isso acontecia,
exceto pela parte que eu gostava daquilo, mais porque eu não queria
mostrar meu lado fraco, meu lado feminino.
Outro dia meu namorado
disse que eu bebia igual a um homem e eu me enchi de orgulho, mas por
quê? E por que quando ele disse que as mulheres na Polônia
misturavam suas bebidas com suco pra tirar o “gosto ruim” e eu
achei isso tão estranho? Eu me diferenciei das mulheres. Eu disse a
mim mesma “eu sou diferente e me comporto diferente.” Às vezes
na minha cabeça eu vejo dois mundos, um com “eles”, que seria a
maioria do comportamento masculino e o “elas”, a maioria do
comportamento feminino e o outro mundo com o resto dos homens e das
mulheres com quem eu me identifico. Por exemplo, homens e mulheres
com comportamentos fora do que é o padrão, com uma frase diferente
ou um ponto de vista que saiu do (useless word) “normal”.
O problema da maioria
das pessoas, não são elas próprias, mas sim a passividade
argumentativa e a falta de sede de conhecimento. Sendo assim, elas se
tornam ignorantes do que acontece com as pessoas mundo afora, como
conceitos que há anos têm feito mal às pessoas, mas que agora são
utilizados com outro tipo de abordagem. Como por exemplo, “nossa,
você joga como uma mulher.”. Hoje, 2016, depois de ver mulheres
arrasando nos jogos olímpicos, sendo bem sucedidas em suas
carreiras, ouvindo-as em vídeos na internet falando sobre assuntos
conceituais, importantes para qualquer pessoa. Hoje, eu me orgulho de
ouvir essa frase. De sentir essa representatividade e eu espero que
todos tenham um dia esse tipo de autoanálise para com as
caraminholas que passam na nossa cabeça. Centenas de pensamentos
inúteis misturados com os úteis que podem fazer você mudar
completamente uma visão de mundo. Pois, eu sei sobre o empoderamento
feminino, o movimento feminista, mas, ainda assim, eu luto
internamente com hábitos de pensamento e comportamento que já estão
profundos na minha jovem mente de 21 anos.
Recentemente eu li o livro Salomé que fala sobre como as mulheres perderem, eu diria, sua posição no mundo. Querendo ser, parafraseando o livro, homens de saia. E então, ao longo da história, as mulheres e o mundo começaram a se afastar da feminilidade. Por que ser sensível se quem chora é fraco? O que vale é o racional, o masculino. O mundo todo saiu perdendo muito nessa dominância de pensamento patriarcal. O livro aborda como essa falta do feminino faz falta inclusive para as próprias mulheres que negam serem o que é por não serem valorizadas por isso.
Muito está sendo mudado e desconstruído, e para o melhor eu espero que o mundo caminhe. Pois apenas juntos, como iguais as pessoas alcançarão um mundo mais justo e menos desequilibrado.
Vigiai.
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