quarta-feira, 21 de maio de 2014

Labirintos vividos



Ele começou a andar e a balbuciar sobre seus pensamentos da noite passada. -"Pensei sobre a gente", ela disse assim que acordei, se levantou e saiu. O que quer dizer? Ela quer terminar? Não está feliz? Por que não tenta mudar, porra? As pessoas dependem muito das outras, falta autonomia nesse mundo. Mas, será que eu fiz alguma coisa? Fui autônomo demais? Dei atenção demais ou de menos? Por que precisamos depender de alguém? Se ela está infeliz é problema dela, assim como se eu estou infeliz agora o problema é meu. A vida é muito egoísta. Continuou caminhando, chutou uma pedrinha, pisou em uma folha amarela e tropeçou no vazio que se encontrava na calçada. -Acho que vou me mudar. Vou dar espaço à ela e as coisas vão melhorar, não estamos prontos para uma relação mais séria. Mas afinal, por tudo tem que ser sério? Eu to tranquilo. Ela pirou. Eu to pirando. O que ela quis dizer sobre "pensei". Ela está concluindo um mestrado e tem tempo pra pensar? Estou farto de pensar, só pensar... Vou agir. Chegou em casa e se deparou com duas malas ao lado do sofá. -São minhas. Ela está... "Amor?", chamei alto. Estava linda, mas com uma expressão de culpada. Ela não está feliz. Quero ajudá-la, mas quem sou eu? Mal me encontro no mundo, esse mundo egoísta, onde cada 'bom dia' possui um interesse embutido. Então, como posso ajudar a que mais amei, a que mais me manteve em pé quando o mais fácil era cair e esperar passar. Ela me salvou, me iluminou. E eu? O que fiz? A culpa é minha. Sou o cara que ela escolheu pra protegê-la e amá-la. Sim, ela me escolheu. Vou ajudar, vou falar... "Selton, o apartamento é meu. Preciso que você vá para outro lugar. Talvez para a casa de um amigo seu, eu não sei. Não preciso saber. A vida... olhe, acontecem coisas... esqueça. Apenas entenda uma coisa: eu te amo, amo mesmo, mas preciso de mim, apenas. Me desculpe, quero que você fique com..." Saiu correndo. -Não quero isso, por que tenho que aceitar? Amelie, por quê, Amelie? Estou infeliz, o problema é meu. Ela não tem que lidar com isso. Ela não quer lidar comigo, já quis, já precisou, mas a vida muda. O amor muda, as pessoas mudam, deveria existir um sentimento seguro com que possamos lidar... Por que a vida é assim? A vida é egoísta. Dia seguinte. Saiu do trabalho e errou o caminho. Não foi pra casa do melhor amigo de infância que ficou bebendo com ele no bar até as 4 da manhã. Foi pra casa. -"Amelie.", chamou. Ninguém em casa. As malas continuam no lugar. Vou pegá-las, sair e... O que? Amelie caída, fria, era pra eu ter sumido da vida dela, assim como ela sumiria da minha. Amelie precisava de outras coisas. Precisava do apartamento? Por que fez isso? Uma carta.

"A vida as vezes nos tira o controle. Das coisas e de nós mesmos. Quero coisas que não entendo, não entendo as coisas que quero, não quero as coisas que tenho e não entendo o porquê das coisas. O futuro se torna incerto, e o labirinto da vida se fecha quando não se sabe quem ou pra quem se é. Selton, se encontre e viva, pelo meu amor, Amelie."


Eu te amo, te amo tanto. Ela me amava, por que? Quem sou eu, quem somos nós? A vida não é egoísta, as pessoas que o são. Mesquinhas e apavoradas. Têm medo de viver, têm medo de morrer, de terem, de não terem, de serem algo condenável, de serem elas mesmas. Somos monstros com uma bomba tic-tac de amor e ódio. O que seguir? O que vale a pena? -Sou autêntico como a vida. Por isso deixo minhas memórias de momentos antes da morte de dois amores. Um amante da vida e o outro da morte.

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